‘Calendas de Março’ une memória, política e literatura com sensibilidade
Os horrores dos anos de chumbo, o conflito armado e a repressão policial servem de pano de fundo para uma instigante história de amor, descoberta anos depois por uma mulher, durante um cenário tão complexo quanto o anterior: o período de pandemia da covid-19.
Durante o isolamento social, Helena, personagem central do romance “Calendas de Março”, de Ivete Nenflidio, ao buscar um refúgio temporário para seus temores, acaba encontrando um diário guardado no fundo de um baú, que a faz viajar pelo tempo e por suas memórias.
A personagem não apenas relembra os horrores da ditadura militar brasileira, que permeiam suas lembranças de infância, mas acaba descobrindo também uma poderosa história de amor e resistência, o que faz com que seja traçado um paralelo entre dois momentos históricos complexos vividos no Brasil.
Narrado em terceira pessoa, o livro transita pelas emoções de Helena e as de Luiza, aquelas encontradas no diário. Memórias que por vezes se identificam e se mesclam, mas também fazem com que a protagonista se transporte para uma outra realidade, chegando a se esquecer das angústias do tempo presente.
Por outro lado, a história de Luiza também faz com que Helena, a todo instante, retorne para a própria situação atual do país, já que se torna impossível para a protagonista não enxergar a conexão entre passado e presente.
“Assim como Helena, viajei em uma leitura na qual encontrei diversos paralelos com a realidade que me cerca. Ivete transita entre o interno e o externo, revelando os temores e angústias da protagonista em meio à quarentena, bem como as reflexões que ela estabelece entre o cenário político brasileiro atual e o dos anos de ditadura”, destaca Aione Simões, escritora.